CENÁRIO
Febre Amarela, Dengue, Zika e Chikungunya são infecções virais tendo em comum o vetor (Aedes aegipty) e vírus da família Flaviviridae, do gênero Flavivirus. Para a Febre Amarela e para a Dengue existem vacinas. A vacina Dengvaxia previne, ao final de suas três doses, 93 por cento da doença grave e consequentemente reduz em 80 por cento as internações devidas à dengue.
CENA 1 – Paris, França, 29 de Novembro de 2017 - A Sanofi (indústria farmacêutica) pediu às autoridades de saúde de países onde a vacina é aprovada e comercializada, que atualizassem as informações fornecidas a médicos e pacientes em bula de sua vacina contra a DENGUE, de nome DENGVAXIA®. Informou sobre risco relativo à vacina, mesmo compreendendo que esse risco para os soronegativos (indivíduos que não tiveram contato com vírus da DENGUE) seja extremamente baixo.
CENA 2 – Brasil, 30 de Novembro - A Anvisa (autoridade de vigilância à saúde) divulgou nota em seu site e recomendou que a vacina da dengue não seja tomada (sic) por pessoas que nunca tiveram contato com o vírus da dengue, em função de informações preliminares e ainda não conclusivas, que apontam que indivíduos podem desenvolver formas mais graves da doença, quando usam a vacina, sem ter tido contato prévio com o vírus da dengue (soronegativos).
Ainda bem que a Anvisa fez questão de frisar que a vacina propriamente dita não causa o aparecimento da doença de forma espontânea e menos ainda determina quadro grave da doença, sendo necessário para haver Dengue, o contato com um dos quatro vírus da dengue por meio da picada de um mosquito infectado.
CENA 3 – Brasil, 30 de Novembro - A GLOBO (autoridade em noticiar) informa que a Anvisa recomenda vacina da dengue apenas para quem já teve a doença. E lamentavelmente informa que o Laboratório (fabricante) diz que 0,5% dos pacientes que tomaram a vacina e que nunca tiveram dengue desenvolveram a doença depois de vacinados, ou seja “ leram mas não entenderam ’’.
FOI O CAOS!
Quase metade da população mundial vive em países onde há a circulação do vírus da dengue com seus quatro sorotipos, capazes de determinar a DENGUE, ocorrendo em media, anualmente, 390 milhões de infecções por dengue no mundo. Entre as estratégias de combate à DENGUE se destacam o combate ao vetor Aedes aegypti e a prevenção com vacinação. A vacina contra a DENGUE foi aprovada pela ANVISA, no Brasil, em 28 de dezembro de 2015.
As pessoas podem ser infectadas com dengue até quatro vezes na vida e uma parcela pequena dessas pessoas pode ficar gravemente doente após qualquer uma dessas infecções. Os dados de vigilância de alguns países indicam que entre 70 a 90 por cento das pessoas, vivendo em áreas onde ocorre a DENGUE, terão sido expostas à dengue pelo menos uma vez no momento em que chegarem à adolescência, consequentemente podendo ser detectados por exame laboratorial (soropositivos). Existem muitos fatores que podem levar a uma grave infecção por dengue. No entanto, o maior risco de ter uma doença mais grave foi observado em pessoas infectadas pela segunda vez por um vírus de dengue diferente daquele que causou o evento prévio. Ao aplicarmos uma vacina em pessoas em uma área afetada por DENGUE (área endêmica) devemos perceber que o risco para os soronegativos é extremamente baixo, primeiramente porque poucos serão soronegativos (10 a 30%), e em segundo lugar porque entre os soronegativos, ao final do esquema vacinal (três doses da vacina), a maioria desenvolverá uma resposta imunológica que não permite o aparecimento de formas leves, moderadas ou graves.
Assim, quando se fala sobre o risco da vacina, estamos falando de risco relativo, ou seja, entre vacinados não previamente infectados (soronegativos) há a chance de que uma pessoa entre duzentas (1:200) se vier a entrar em contato com o vírus irá desenvolver eventualmente a DENGUE com expressão grave da doença. E, esse indivíduo acometido pela dengue exigirá apenas monitoramento e condução como em qualquer outro episódio de dengue, exatamente igual a indivíduos não vacinados.
Em realidade, o processo tripartite de comunicação desse evento foi desastroso, envolvendo a fabricante (SANOFI) que solicitou atualização de bula sem comunicar concomitantemente a toda a comunidade relacionada com a saúde e de forma adequada para toda a população, bem como, a parte controladora (ANVISA) que emitiu nota pobre em qualidade de informação e finalmente a parte da imprensa (GLOBO) que interpretou e divulgou inadequadamente a informação, pela falta de elemento técnico na equipe capaz de traduzir a mensagem e ler nas entrelinhas eventuais interesses.
Isso tudo fez com que a notícia chegasse aos ouvidos da população de maneira não clara, impossibilitando que o médico e outros profissionais da saúde, em sua relação com o paciente, pudessem executar comunicação apropriada e limpa de dúvidas aos interessados.
Infelizmente, isso gerou ruídos principalmente entre o público leigo, e agora estamos esperando que a GLOBO, a ANVISA e a SANOFI tenham a capacidade de dirimir dúvidas e esclarecer questionamentos no sentido de tranquilizar a população, corrigindo o caos.
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