A vacinação é considerada uma das intervenções médicas mais bem-sucedidas e eficientes em termos de custo-benefício, tendo já salvado mais vidas do que qualquer outra intervenção clínica e registrando um elevado nível de adesão das populações. A vacinação demonstra importância em todo o ciclo de vida, do recém-nascido ao idoso. Todos os anos as vacinas salvam a vida de cerca de três milhões de pessoas em todo o mundo e previnem a invalidez de mais de 750 mil crianças, em consequência de doenças infecciosas. Lamentavelmente, ainda não há uma vacina contra o HIV (Virus da Imunodeficiência Humana), embora os investigadores na área julguem estar próximos do desenvolvimento racional de vacinas candidatas eficazes para bloquear o HIV.
Não se pode esquecer que os portadores do virus da imunodeficiência adquirida se encontram sujeitos ao risco de adquirir infecções passíveis de prevenção tanto quanto qualquer outra pessoa na comunidade, sendo tais infecções causas importantes de morbimortalidade nas pessoas que vivem com HIV/AIDS, apesar disso, a cobertura vacinal nas pessoas vivendo com HIV|AIDS ainda é baixa, em especial nos adultos.
Assim sendo, a imunização de PVHA (Pessoa Vivendo com HIV/AIDS) com as vacinas imunizantes existentes é importante na prevenção de infecções e manutenção da saúde. Contudo, ainda há receios da parte de portadores e de cuidadores quanto ao uso, levando a perder oportunidades de atualização do calendário vacinal. As dúvidas ocorrem em relação ao melhor momento relativo ao estado imunológico para vacinar e à segurança e eficácia das vacinas em PVHA, incidindo na escolha do produto vacinal (antígeno) adequado, do esquema vacinal mais apropriado e do melhor momento para a aplicação.
A eficácia das vacinas depende do tipo de imunizante (antígeno) utilizado na vacina e dos mecanismos efetores da imunidade adquirida humoral, mediada por anticorpos secretados, induzidos pela vacina, este fato dependendo da qualidade da imunidade, ou seja, da condição imunológica do indivíduo. A condição de imunossupressão encontrada em PVHA, quer pela atividade viral, quer por efeito de alguns medicamentos, pode levar a uma resposta imune modificada perante os estímulos vacinais.
Assim, a ativação imune induzida pelo HIV envolve o sistema imune inato e adaptativo, levando a alterações na qualidade, quantidade e persistência da resposta imune induzida pela infecção natural ou por vacinação.
Já a utilização de Terapia Anti Viral na replicação do HIV leva a aumento significativo de células relacionadas com resposta imune (T-CD4 e células B) essenciais em gerar resposta imune humoral e celular. A Terapia anti-viral, portanto, melhora a magnitude e aumenta o tempo de resposta imune a infecções naturais e à vacinação (imunizacão) quando se compara PVHA com e sem a Terapia anti-viral.
Idealmente a resposta a vacinas se mostra melhor após a reconstituição imune e supressão viral do HIV, pela introdução da terapia anti-viral, independentemente do tempo do seu uso.
Após a vacinação de pessoa vivendo com HIV/AIDS, há diminuição progressiva do nível dos títulos de anticorpos protetores, mas apesar disso, ainda não há evidência suficiente para revacinar de rotina essas pessoas após a supressão viral e reconstituição imune com a terapêutica antiviral.
As recomendações, doses e esquemas podem ser diferentes dos habituais para as pessoa vivendo com HIV/AIDS, tanto adultos quanto crianças, gestantes ou transplantados.
Embora se utilize de rotina como marcador preditor de resposta vacinal, nas pessoas portadoras do virus, o valor absoluto ou percentagem de células T CD4, deve-se atentar para a importância de T CD8 e para a relação CD4/CD8 como mais apropriados preditores de resposta e de supressão viral do HIV.
Assim, estratégias utilizadas para melhorar a resposta das PVHA às vacinas compreendem: contagem de células T CD4 9 (definição do melhor momento para imunizar); esquemas com maior número de doses ou intervalos mais curtos entre elas; uso de vacinas com maior quantidade de antígenos por dose ou com adjuvantes potentes e esquemas acelerados conforme a urgência da proteção.
Portanto, a conduta perante o PVHA deve ser a de avaliar o seu estado vacinal, evitando perdas de oportunidade de atualização do calendário, respeitando-se as especificidades e riscos de exposição, bem como o estado imunovirológico do indivíduo.
As pessoas que convivem com PVHA, seus cuidadores e comunicantes, também devem ser imunizadas, para evitar a transmissão involuntária de patógenos.
Há casos em que mesmo a resposta imune não sendo a mais adequada, na dependência da epidemiologia, portadores de HIV apresentam risco aumentado de aquisição de doença e podem desenvolver quadros mais graves, devendo receber vacinação, situação aplicável para a doença pneumocócica invasiva (DPI), ainda que o(a) paciente esteja sob terapia antirretroviral, bem como para a infecção causada pelo vírus da hepatite B (VHB) que pode evoluir para cirrose ou neoplasia hepática (hepatocarcinoma) e para os virus da papilomatose humana (HPV).
Considerando segurança da imunização, deve-se considerar que as vacinas inativadas são seguras; já as de vírus vivos atenuados, necessitam levar em conta que os portadores de HIV sob terapia antirretroviral apresentam menor risco de eventos adversos, assim como menor possibilidade de aumento transitório da carga viral do HIV.
Variações virológica e imunológica são transitórias, normalizando em duas a seis semanas após a vacinação.
Quanto ao melhor momento para proteger portadores do virus, a resposta imune às vacinas logo após a infecção pelo vírus HIV é semelhante à da população geral não infectada. Com a progressão da infecção, a resposta imune às vacinas diminui, enquanto o risco de aquisição e a gravidade das infecções imunopreveníveis aumentam. Com a introdução da terapia antirretroviral a resposta retorna.
Existe forte recomendação de vacinar as PVHA o mais cedo possível e, para tanto, é necessário conscientizar os profissionais da Saúde, os pacientes e a população em geral.
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